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15 agosto 2023

Orgulho no estudo do Positivismo

No dia 3 de Gutenberg de 169 (15.8.2023) realizamos nossa prédica positiva, dando continuidade à leitura comentada do Catecismo Positivista (em sua oitava conferência, dedicada à filosofia das ciências superiores, isto é, da Sociologia e da Moral). 

Na seqüência, abordamos no sermão quatro temas:

1.      Transformação de José Murilo de Carvalho (13.8.2023)

2.      Dia dos Pais (13.8.2023)

3.      Festa da Mulher (15.8.2023)

4.      Orgulho no estudo do Positivismo

A prédica foi transmitida nos canais Igreja Positivista Virtual (aqui: https://l1nk.dev/eFhRL) e Positivismo (aqui: https://ury1.com/8hVNr). Devido a uma dificuldade técnica do Youtube, a transmissão do canal Positivismo iniciou-se com um atraso de cerca de sete minutos em relação ao canal Igreja Positivista Virtual.

Tomando como base a transmissão do canal Igreja Positivista Virtual (no Facebook), cada um dos temas do sermão começou nos seguintes tempos:

1.      Transformação de José Murilo de Carvalho: 54' 02"

2.      Dia dos Pais: 1h 06' 40"

3.      Festa da Mulher: 1h 14' 38"

4.      Orgulho no estudo do Positivismo: 1h 28' 01"


*   *   *


 

1.      Transformação de José Murilo de Carvalho

a.       No dia 13 de agosto de 2023 transformou-se José Murilo de Carvalho, ou seja, ele faleceu. Nascido em 8 de setembro de 1939, foi um dos maiores cientistas políticos e historiadores do país. Embora fosse mineiro de nascimento e de formação acadêmica básica (estudou Sociologia e Ciência Política na UFMG), desenvolveu sua importante carreira intelectual no Rio de Janeiro, tendo sido professor da UFRJ, do Iuperj e também membro da Academia Brasileira de Letras.

b.      Em suas pesquisas ele abordou a consolidação do Estado brasileiro; a cidadania no país; a atuação política dos militares; o desenvolvimento dos símbolos cívicos nacionais republicanos. Com maiores ou menores limitações (especialmente em termos de opiniões políticas), todos esses estudos são referências absolutamente obrigatórias na reflexão histórica, sociológica e política do Brasil.

c.       Ao estudar em particular os símbolos cívicos republicanos – no livro A formação das almas – ele concedeu uma inequívoca importância à atuação dos positivistas, em particular ao Apostolado Positivista Brasileiro, na definição de símbolos decisivos: a bandeira, José Bonifácio, Tiradentes, o sistema de feriados nacionais.

d.      Suas opiniões políticas muitas vezes deixavam a desejar: era claramente simpático à monarquia (alguns dizem que ele era de fato monarquista) e, ao mesmo tempo, apoiava a metafísica democrática da revolução social. A respeito do Positivismo e da Religião da Humanidade, muitas de suas opiniões repetiam a superficialidade banalizante, a ironia e o desprezo academicista e cientificista tão comuns – embora, ao mesmo tempo, de maneira plenamente contraditória, elogiasse a importância dos símbolos cívicos elaborados e disseminados pelos positivistas e seu caráter cívico.

e.       No final da vida ele apoiou o esforço de nosso amigo e simpatizante do Positivismo Luiz Edmundo Horta Barbosa, ao integrar a Associação dos Amigos do Templo da Humanidade, criada para angariar apoio e recursos para a restauração da Igreja da Humanidade no Rio de Janeiro.

f.       Um pequeno artigo de sua autoria, publicado em 2005 na Revista de História da Biblioteca Nacional (ano 1, n. 1, p. 68-72) sob o sugestivo título de “A Humanidade como deusa”, tanto os seus defeitos quanto suas qualidades apresentam-se de maneira claríssima. Os últimos dois parágrafos do texto são um belo elogio ao Positivismo:

Um ponto em que nossos positivistas estavam, de fato, muito distantes da realidade brasileira era o da moral pública. Para eles, o interesse coletivo devia predominar sobre o individual. Todos, patrões e operários, eram funcionários da humanidade. Entendiam a república em seu sentido original, romano, de regime voltado para a realização do bem público. O cidadão republicano era, por definição, um cidadão virtuoso, dedicado à causa pública. Os chefes positivistas jamais aceitaram cargos públicos e não faziam qualquer concessão em matéria de moralidade pública. Repetiam a frase de José Bonifácio: “A sã política é filha da moral e da razão”. Os positivistas que ocuparam cargos públicos, como o Marechal Rondon, foram sempre funcionários exemplares, às vezes para desespero das famílias, que não podiam beneficiar-se da posição do chefe.

A nós que vivemos hoje, cem anos depois, numa República em que o público é alvo costumeiro da rapina de políticos, funcionários e empresários predadores, os positivistas parecem seres ainda mais estranhos, uns alienígenas, uns ETs.

 

2.      Dia dos Pais

a.       Em 1953, com base em motivos comerciais, criou-se no Brasil o “Dia dos Pais”, que cai sempre no segundo domingo de agosto. O objetivo foi ter uma data comercialmente relevante em agosto, em paralelo com o Dia das Mães e tentando também substituir o Dia de São Joaquim, pai da Virgem Maria. Neste ano de 2023, essa comemoração caiu no dia 13 de agosto.

                                                                          i.      Vale notar que as atuais celebrações do Dia das Mães começaram nos Estados Unidos, em 1908, e foram instituídas no Brasil por decreto presidencial em 1932.

b.      Apesar da origem comercial, o Dia dos Pais é, sim, uma data a ser celebrada; afinal de contas, a paternidade é uma das funções sociais.

                                                                          i.      Nesse sentido, ela é diretamente celebrada no culto público no terceiro mês do ano.

                                                                        ii.      A paternidade divide-se em completa (natural e artificial) e incompleta (espiritual e temporal). Assim, o pai não é somente aquele que biologicamente origina um novo ser humano – afinal, pode haver “pais adotivos”. Além disso, exercem funções paternas aqueles homens que apóiam jovens, seja na forma do aconselhamento, seja na forma do patrocínio.

                                                                      iii.      A relação de paternidade idealmente atua em conjunto com as relações de maternidade e de filiação: acima de tudo, o pai estabelece a figura de autoridade e, daí, a relação de subordinação, em que o pai desenvolve a bondade e o filho, a veneração. Essas relações evidenciam que a autoridade não é, nem pode ser, puramente material; em outras palavras, é necessário haver relações e limitações afetivas, de respeito mútuo e de aceitação das respectivas autonomias.

 

3.      Festa da Mulher

a.       A Religião da Humanidade celebra no dia 15 de agosto a Festa da Mulher.

                                                                          i.      Essa é uma celebração importante por diversos motivos:

1.      Seja devido ao tema da celebração – a mulher, a providência moral da Humanidade, a principal fonte contínua de moralidade e de altruísmo do ser humano

2.      Seja devido ao dia específico escolhido para essa data e ao procedimento moral e sociológico empregado para a definição da data

b.      Vale lembrar que o Positivismo celebra as mulheres também em outras datas:

                                                                          i.      Indiretamente, no 1º de janeiro, com a Festa Geral da Humanidade

                                                                        ii.      No dia 19 de janeiro, nascimento de Augusto Comte: festa de Rosália Boyer (mãe)

                                                                      iii.      No dia 5 de abril, transformação de Clotilde de Vaux (esposa)

                                                                      iv.      No dia 5 de setembro, transformação de Augusto Comte: festa de Sofia Bliaux (filha)

                                                                        v.      No décimo mês do calendário abstrato, em que se celebra a função social da Mulher, ou a providência moral

                                                                      vi.      No dia 8 de outubro, festa de Clotilde e Augusto Comte

                                                                    vii.      No dia bissexto (31 de dezembro dos anos bissextos): a Festa Geral das Mulheres Santas

c.       O motivo da escolha desse dia específico para a Festa da Mulher na Religião da Humanidade é que, no catolicismo, nessa data, celebra-se a assunção da Virgem Maria; em outras palavras, nesse dia o catolicismo diviniza a Virgem Maria, tornando-a plenamente objeto de culto e adoração.

                                                                          i.      A Virgem Maria, humana em sua origem e sua atuação na mitologia cristã, foi praticamente desprezada durante a primeira metade da Idade Média, quando vigeu a síntese eucarística

                                                                        ii.      Na segunda metade da Idade Média, com a atuação central de São Bernardo de Claraval, a síntese eucarística foi substituída pela síntese mariana, com o elemento plenamente sobrenatural substituído pelo elemento humano (e feminino) apenas acessoriamente sobrenatural

                                                                      iii.      Assim, o culto à Virgem Maria é um predecessor teológico, histórico e transitório do culto positivo e definitivo à Humanidade

d.      Como lembra Teixeira Mendes em O culto católico, ao adotar a data católica, a Religião da Humanidade segue o procedimento de todas as religiões temporárias, que se apropriaram de celebrações anteriores modificando seus conteúdos

                                                                          i.      Em outras palavras, com isso nós afirmamos a grande continuidade humana e constituímo-nos como herdeiros do conjunto da história: seja ao seguir um procedimento que todas as religiões seguiram, seja ao tornarmos nossa uma celebração anteriormente católica

                                                                        ii.      O culto à Humanidade é também um culto à mulher: daí a data de 15 de agosto para a Festa da Mulher

 

4.      O orgulho no estudo do Positivismo

a.       O título original deste comentário seria “A arrogância no estudo do Positivismo”; mas decidi alterar para “orgulho”, seja porque é menos agressivo, seja porque se refere mais diretamente a uma categoria plenamente positivista, seja porque “orgulho” apresenta uma ambigüidade que pode ser útil

b.      O orgulho é um dos instintos egoístas com caráter social, sendo a ambição temporal; ele é o penúltimo instinto egoísta, seguido pela ambição espiritual da vaidade

                                                                          i.      O orgulho define-se pelo impulso a dominar, isto é, a impor-se sobre os demais; assim, ele é importante para a dominação política

c.        Além desse sentido preciso, a palavra “orgulho” pode ser entendida também de duas outras formas:

                                                                          i.      Arrogância: é a auto-suficiência, a ignorância que não aceita submeter-se a nada, ou seja, é a combinação do impulso dominador com a ignorância

                                                                        ii.      Satisfação íntima: é um sentido um pouco distante dos dois anteriores (dominação e arrogância), em que a pessoa fica feliz por um determinado resultado ou por uma determinada situação obtidos por si mesmo ou por alguém próximo

d.      Mas o que queremos indicar é o orgulho no estudo do Positivismo, isto é, a arrogância de quem começa a estudar o Positivismo, a auto-suficiência de quem considera que, mesmo sendo ignorante, pode criticar o Positivismo (em seu conjunto e/ou em seus detalhes)

                                                                          i.      É algo notável e espantoso:

1.      Por um lado, qualquer pessoa, ao começar a estudar ou a aprender o que quer que seja, é obrigado a adotar uma postura humilde, com freqüência manifestando simpatia pelo que começa a conhecer: história, ciências, ofícios práticos, esportes, outras doutrinas filosóficas ou religiosas etc. etc.

2.      Por outro lado, o Positivismo – ou melhor, a Religião da Humanidade – afirma que a (digna) subordinação é a base do aperfeiçoamento, ou seja, que é necessário humildemente assumir a imperfeição e/ou a ignorância

                                                                        ii.      Todavia: no que se refere ao Positivismo, é bastante comum que a postura de quem se aproxima seja não de humildade, mas de arrogância, de auto-suficiência:

1.      Quem não conhece o Positivismo e não deseja conhecê-lo de verdade – por exemplo, quem faz trabalhos escolares (incluindo aí os “doutores”) – simplesmente repete os preconceitos correntes, marcados por mentiras, distorções e tolices retrógradas e revolucionárias

2.      Quem não conhece o Positivismo mas deseja conhecê-lo muitas vezes começa o estudo partindo do pressuposto – completamente arbitrário e preconceituoso – de que é necessário “atualizar o Positivismo” (e que essa pessoa será a pessoa adequada e responsável por essa “atualização”)

a.       A pretensão de saber previamente ao estudo que é necessário “atualizar o Positivismo” é uma forma extremamente agressiva e infantil de arrogância, em que a ignorância é afirmada pela pretensão de auto-suficiência

b.      Além disso, é evidente que, sendo ignorante, a auto-suficiência de tais arrogantes só pode basear-se em preconceitos (o mais das vezes metafísicos, mas também retrógrados)

                                                                      iii.      Em outras palavras, o Positivismo é objeto de um orgulho que não se vê em outras partes, muitas vezes mesmo a partir de pessoas que se dizem partidárias ou defensoras da Religião da Humanidade

e.       Caso o arrogante controle seu orgulho e persista nos estudos do Positivismo, aos poucos perceberá que ele é, ou era, de fato arrogante, orgulhoso; a submissão passará a atuar no lugar da auto-suficiência

                                                                          i.      Entretanto, até que o arrogante perceba com maior ou menor clareza que é de fato arrogante, haverá um custo para os positivistas sinceros

                                                                        ii.      Esse custo ocorrerá das mais diferentes formas, todas elas negativas: disputas; bate-bocas; cobranças exageradas e/ou infundadas; cansaço; exaustão; somatização

                                                                      iii.      Essa arrogância auto-suficiente, além de desperdiçar valiosos recursos humanos (tempo, paciência, boa vontade, saúde física e moral), também é o oposto dos objetivos maiores do Positivismo, que é a instituição de uma disciplina moral e intelectual, tanto individual quanto coletiva, em que o altruísmo e a preocupação com os demais subordinam, comprimem e orientam o egoísmo e as preocupações exclusivamente voltadas para si mesmo

1.      É necessário insistir: na verdade, a arrogância auto-suficiente é ainda pior do que parece à primeira vista, pois ela recusa inicialmente a condição fundamental para o aperfeiçoamento humano, que é a digna subordinação

f.       Além disso tudo, a arrogância auto-suficiente impõe um enorme dilema para a propaganda e o ensino do Positivismo: na medida em que há um possível aderente, que supostamente deseja conhecer e praticar a Religião da Humanidade mas que atua de maneira por vezes frontalmente contrária ao que supostamente deseja conhecer, os apóstolos vêem-se o tempo todo ante o drama de ter que optar entre persistir em um ensino muito desgastante e desistir de um possível verdadeiro aderente

g.       Estas anotações não se dirigem a ninguém em particular; por outro lado, elas baseiam-se na prática apostólica e sacerdotal que tanto eu quanto nosso amigo e correligionário Hernani vimos desenvolvendo nos últimos anos

                                                                          i.      O que eu chamei acima de “desperdício de valiosos recursos humanos” não é uma afirmação genérica e/ou meramente teórica; ela consiste na descrição literal de problemas que cada um de nós enfrenta em determinados momentos

                                                                        ii.      Há toda uma série de situações correntes de falhas ou limitações de comportamento – desconhecimento da doutrina, imperfeições de caráter, falhas na avaliação prática etc. – que, se e quando ocorrem com lealdade e com boa-fé, são por assim dizer aceitáveis, no sentido de que são passíveis de aconselhamento, recomendações, estímulos etc.

1.      Nesses casos, os esforços e os recursos despendidos pelos sacerdotes da Humanidade para sua solução (inclusive a respeito dos próprios sacerdotes) são recursos bem empregados

2.      Inversamente, no caso da arrogância, da auto-suficiência, o consumo dos recursos passa com facilidade e rapidez do bom emprego para o desperdício

h.      Se é para o Positivismo constituir-se de fato em uma Religião da Humanidade, em um poder espiritual, é necessário que possamos fazer, com legitimidade, sem acrimônia de parte a parte e sem reações adversas, uma exprobração como esta

                                                                          i.      Assim como eu, na condição de sacerdote da Humanidade, faço e tenho que constantemente fazer exame de consciência e exame de minhas condutas, para verificar a adequação de meus comportamentos em relação à Religião da Humanidade e em relação à eficiência de minhas prédicas e de meu apostolado; mais uma vez: assim como eu submeto-me a exames constantes de meu comportamento, é necessário que possamos exprobrar os aderentes a respeito de suas ações e cobrar-lhes uma adequação semelhante

                                                                        ii.      Essa exprobração é importante porque, como vimos indicando, esse problema é particularmente agudo e desgastante

i.        Para concluir e sintetizar esta exprobração, convém reforçarmos:

                                                                          i.      Em qualquer atividade e, no fundo, na vida em geral, só podemos obter conhecimento e aperfeiçoarmo-nos a partir de uma postura de humildade, ou seja, de digna submissão

                                                                        ii.      O Positivismo afirma com clareza que “a (digna) submissão é a base do aperfeiçoamento”

                                                                      iii.      Assim, tanto na vida em geral quanto em particular para conhecer o Positivismo é necessário desde o início ser positivista e praticar o Positivismo, adotando-se a postura de digna submissão

16 janeiro 2013

Nível de dedução, secura afetiva e orgulho


No trecho abaixo Comte afirma que os diferentes graus de abstração (ou, de modo equivalente, os graus de indução) de cada ciência têm diferentes conseqüências morais para os respectivos cientistas. Em particular, Comte chama a atenção para o fato de que, ao ser principalmente uma atividade intelectual, a ciência estimula a secura do coração, isto é, estimula os cientistas a tornarem-se frios e/ou anti-sociais.
Mas, mais do que isso, quanto maior o grau de dedução aplicado, mais o orgulho é estimulado: afinal de contas, como na dedução o indivíduo trabalha isoladamente, cria-se a impressão de que os resultados obtidos têm origem estritamente individual, sem o concurso prévio ou concomitante de outras pessoas (e habilidades). Por outro lado, a indução exige a coleta de dados empíricos, o que lhe confere um certo caráter coletivo – o que acarreta um certo nível de sociabilização. A Química, ao aproximar-se mais da Sociologia e da Moral, além de conter um grande elemento de indução, está relativamente menos sujeita a esses vícios que a Matemática, a Astronomia e a Física.
Desse modo, o trecho abaixo mais uma vez evidencia o quanto é errado afirmar que o Positivismo (e Comte) é “intelectualista”, “academicista”, “objetivista” – ou, em variações próprias às Ciências Humanas e Sociais, “anti-reflexivo”, “anti-subjetivista”, “anti-compreensivo” e outras tolices semelhantes.

*          *          *

“Outre la sécheresse inhérente à toute occupation où le cœur a trop peu de part, les travaux scientifiques tendent spécialement à développer l’orgueil, en disposant à une appréciation exagérée du mérite individuel. Ce double danger naturel ne peut être assez contenu que par une vraie discipline religieuse, qui fasse toujours prévaloir dignement l’esprit d’ensemble et le sentiment social. Il s’étend et s’aggrave de plus en plus dans l’anarchie atuelle. Mais, en déployant ces ravages moraux, le régime académique manifeste aussi leur inégale influence sur les diverses classes de savants, qui s’en trouvent d’autant moins affectés que leurs études se rapprochent davantage du but nécessaire de l’évolution positive. Or cette incontestable différence, déjà sensible entre les divers sciences cosmologiques, tient à la fois aux méthodes et aux doctrines. D’abord, les études supérieures font mieux sentir que les inférieures la destination finalement sociale de toutes nos saines spéculations, et même le seul point de vue vraiment universel que comportent nos conceptions positives. Mais, par une réaction plus cachée, leur propre caractère logique restreint davantage ces dangers moraux, en faisant prévaloir graduellement l’induction sur la déduction. En effet, c’est surtout celle-ci que excite l’orgueil scientifique, par des conceptions que chaque esprit croit tirées de lui-même, sans apprécier le concours extérieur. Au contraire, l’induction rappelle toujours une source objective, et même une certaine coopération sociale. C’est principalement dans les études déductives que règne aujourd’hui l’usage, non moins irrationnel qu’immoral, d’enseigner chaque science sans aucune indication historique, comme si celui que l’expose l’avait entièrement créée. Tous ces vices de la culture académique seront essentiellement rectifiés par le régime encyclopédique. Mais l’état le plus normal permettra néanmoins de sentir toujours que les dangers moraux du travail scientifique tiennent davantage à la déduction qu’à l’induction. Quoique cette différence naturelle se manifeste déjà quand on aborde la cosmologie terrestre, elle se trouve aujourd’hui trop dissimulée, en physique, par les usurpations algébriques. C’était donc envers la chimie que je devais en indiquer l’appréciation générale, rendue maintenant si sensible d’après l’irrationnelle dispersion des travaux scientifiques” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 532-534).