Mostrando postagens com marcador Visão de conjunto. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Visão de conjunto. Mostrar todas as postagens

28 fevereiro 2024

O que é o espírito positivo?

No dia 2 de Aristóteles de 170 (27.2.2024) realizamos nossa prédica positiva, dando continuidade à leitura comentada do Catecismo positivista, agora em sua décima conferência (dedicada ao regime privado).

Na seqüência procuramos responder a seguinte questão: o que é o espírito positivo?

A prédica foi transmitida nos canais Positivismo (aqui: https://acesse.dev/6f9tT) e Igreja Positivista Virtual (aqui: https://l1nk.dev/l2wvx). O sermão começou em 50 min.

As anotações que serviram de base para a exposição oral encontram-se abaixo.

*   *   *

O que é o espírito positivo? 

-        A pergunta desta semana que buscaremos responder é, talvez, uma das mais básicas quando estudamos o Positivismo e a Religião da Humanidade: o espírito positivo

o   Se, do ponto de vista moral, a nossa meta, ou melhor, a lei da felicidade e do dever é viver para outrem, isto é, ser altruísta, do ponto de vista intelectual podemos dizer que o parâmetro é realmente o espírito positivo

-        Mas o que é o espírito positivo?

o   Podemos dizer que o espírito positivo é aquela forma de entender o mundo que segue os parâmetros da positividade

o   Mas, para não ficarmos dando voltas ou apresentando definições circulares, eis os parâmetros do espírito positivo:

§  Comecemos por expor os sentidos da palavra “positivo”, conforme expostos por Augusto Comte no Apeloaos conservadores (de 1855 – p. 25): real, útil, certo, preciso, relativo, orgânico e simpático

·         Essa relação foi afirmada e refinada por Augusto Comte desde que ele proferia o seu curso de filosofia positiva; uma versão anterior, levemente diferente, foi exposta de maneira formal, inicialmente, no Discurso sobre o espírito positivo (de 1844)

·         Sem desconsiderar as outras características, aqui insistiremos no “relativo” e no “simpático”, pois elas indicam, por um lado, que o Positivismo opõe-se ao absoluto e, por outro lado, que o Positivismo afirma e estimula o altruísmo

§  Adicionalmente, da nossa parte podemos também incluir que integram o espírito positivo o espírito histórico e, daí, o caráter social – sendo que essas expressões devem ser lidas com toda a polissemia que com freqüência caracteriza o estilo de Augusto Comte

§  Da mesma forma, convém acrescentar que o espírito positivo pressupõe e afirma a visão de conjunto

o   Uma outra forma, evidentemente complementar, de entender o espírito positivo é por meio da “primeira lei da filosofia primeira”, cujo enunciado é o seguinte: “Formar a hipótese mais simples e mais simpática que comporta o conjunto dos dados a representar

§  As leis da filosofia primeira são os princípios universais que regem todos os fenômenos, em um total de 15 leis

·         As leis da filosofia primeira incluem leis do entendimento humano e também leis do funcionamento da realidade cósmica; elas são tanto objetivas quanto subjetivas

§  A primeira lei da filosofia primeira é chamada de “lei-mãe” da filosofia primeira, pois ela rege a formulação e a elaboração de todas as nossas concepções, em termos normativos (como devemos racionar) e descritivos (como raciocinamos de fato)

·         Assim, ela pressupõe e orienta a elaboração do espírito positivo

-        Mudando de âmbito, há um outro sentido para a expressão “espírito positivo”, um sentido popular, muito comum atualmente

o   Esse sentido estende-se a outras expressões, como “positividade” e até “positivismo”

o   Esse sentido é o do espírito positivo como “pensamento positivo”

-        O “espírito positivo” como “pensamento positivo” significa que devemos sempre buscar o melhor das coisas, tentar não reclamar muito, procurar sorrir etc.

o   Em um sentido geral, o Positivismo assume o “pensamento positivo”

§  Todos sabemos como a vida requer confiança nas próprias capacidades, confiança nos demais, um ambiente familiar, laboral e social afirmativo etc.

§  Trata-se, portanto, de um lado, do bom humor, da alegria, da felicidade; por outro lado, da autoestima e da confiança em nossos familiares e concidadãos, por outro lado ainda, da esperança

o   Há algumas interpretações místicas que consideram que o “pensamento positivo” por si só influencia objetivamente a realidade, em particular modificando a realidade física

§  Isso incorre no grave erro intelectual, moral e prático de negar a realidade das leis naturais inferiores; na verdade, isso é mesmo um misticismo, pois consiste em uma versão ultrassubjetivista das vontades arbitrárias próprias às divindades (ou seja, à teologia)

o   No Discurso preliminar sobreo conjunto do Positivismo (1848/1851), Augusto Comte nota que o Positivismo não é nem fatalismo nem otimismo

§  Para o que nos interessa, o otimismo é a concepção segundo a qual a realidade é toda ela totalmente boa, perfeita, completa

·         Essa concepção desconhece – de maneira voluntária ou involuntária – o fato de que a realidade não é perfeita e que, portanto, ela é passível de aperfeiçoamento

·         A origem do erro do “otimismo” vincula-se à teologia (em particular monoteísta), que considera que a divindade criou todo o universo; este, por ter sido criado por um ser supostamente perfeito, também seria perfeito (ainda que, contraditoriamente, incognoscível, ou seja, misterioso e impossível de ser conhecido e compreendido)

§  O fatalismo é um erro intelectual complementar, segundo o qual as leis naturais impedem qualquer intervenção humana – em particular nos fenômenos humanos

·         A origem desse erro está no fetichismo (em particular na astrolatria) e na extensão da interpretação própria às leis astronômicas a toda a realidade

·         O erro do fatalismo está em desconhecer as características próprias às diversas categorias dos fenômenos, em particular que, quanto mais complicado um fenômeno, mais modificável ele é

§  A complementaridade entre fatalismo e otimismo está em que um nega qualquer possibilidade de modificação e o outro nega qualquer necessidade de modificação

o   Há um último problema vinculado ao “espírito positivo” entendido como “pensamento positivo”: é o que alguns chamam de “positividadetóxica

§  A positividade tóxica é a tendência a querer que tudo tenha que ser encarado “positivamente”, sem haver possibilidade de reclamações, pessimismo, irritações ou até tristeza

·         Em outras palavras, a positividade tóxica é a exigência de rejeitar e negar os sentimentos negativos

§  No âmbito do Positivismo, essa “positividade tóxica” pode ser assimilada ao “otimismo” comentado e criticado por Augusto Comte, na medida em que esse otimismo considera que tudo é bom

·         Mas, além disso, essa positividade tóxica também incorre no desconhecimento geral do dogma positivo, no sentido de que desconhece que a realidade tem uma objetividade que não depende do ser humano – para o que nos interessa, que não depende do nosso estado de humor

·         Nesse sentido, há a necessidade de afirmar-se o aspecto do realismo do espírito positivo: é uma questão de reconhecermos a existência de situações incômodas, desagradáveis, tristes ou simplesmente difíceis e/ou contrárias aos nossos desejos e vontades

-        Em suma:

o   O espírito positivo, como tudo no Positivismo, tem um aspecto afetivo, um intelectual e um prático

§  O espírito positivo pode ser definido por seus atributos: real, útil, certo, preciso, relativo, simpático; histórico e social; afirmador da visão de conjunto

§  A lei-mãe da filosofia primeira também constitui e orienta o espírito positivo: “formular a hipótese mais simples e mais simpática que comporta o conjunto de dados disponíveis”

o   O espírito positivo rejeita duas interpretações comuns em particular: de um lado a negação da possibilidade de qualquer modificação, que é o fatalismo; por outro lado, a negação da necessidade de modificação, que é o otimismo

o   No senso comum, o espírito positivo equivale a "pensamento positivo"

§  O pensamento positivo tem um aspecto que se aproxima do Positivismo: trata-se da alegria, da generosidade, do manter boas relações sociais, da confiança e da esperança

§  Mas há alguns aspectos do chamado pensamento positivo que se afastam do Positivismo:

·         O misticismo de considerar que a realidade modifica-se apenas pela força do pensamento

·         O “otimismo” criticado por Augusto Comte

·         A chamada “positividade tóxica”, que rejeita sentimentos negativos e, no fundo, rejeita a exigência de realismo de nossas concepções


16 novembro 2022

Importância da visão de conjunto

No dia 11 de Frederico de 168 (15.11.2022) fizemos uma prédica positiva; na parte da leitura comentada do Catecismo positivista, concluímos a teoria geral do culto, tratando da influência intelectual do culto positivo. Já na parte de sermão, tratamos da importância da visão de conjunto para o ser humano, bem como da rejeição contemporânea da visão de conjunto pelo pós-modernismo e pela política identitária.

As anotações que serviram de base para a (longa) exposição sobre a importância da visão de conjunto estão disponíveis abaixo. A exposição oral está disponível aqui (no canal Positivismo do Youtube) e aqui (no canal Apostolado Positivista do Facebook), a partir de 53' 30".

*   *   *

Importância da visão de conjunto

 

-        A visão de conjunto permite que se entenda a realidade

o   A visão de conjunto tem conseqüências morais, intelectuais e sociais:

§  A visão de conjunto oferece sentido ao mundo e à vida

§  É somente por meio da visão de conjunto que se pode explicar a sociedade e os indivíduos, ao inseri-los em “contextos”

·         Ao entendermos a totalidade, sabemos onde fica cada coisa e, portanto, sabemos onde cada um de nós fica, está e como se relaciona com os demais

§  A verdadeira moralidade só é possível com base na visão de conjunto:

·         Somente a partir da visão de conjunto é possível definir o que é bom e o que é ruim, o que é justo e o que é injusto

o   Inversamente, a ausência de visão de conjunto, ou a negação da visão de conjunto, resulta em que a realidade torna-se incoerente e irracional e qualquer discussão sobre o que é certo e o que é justo torna-se impossível (quando não irrelevante)

§  A irracionalidade e a incoerência resultantes da ausência de síntese tem resultados muito claros: a perda do sentido da vida, a confusão mental, a perda de referências morais (em termos individuais e coletivos)

§  As consequências acima resultam, por sua vez, em aumento dos conflitos sociais e da violência social e política, em guerras (internacionais e/ou civis), no fanatismo e na intolerância, no adoecimento mental e físico

§  A rejeição da visão de conjunto, portanto, é ao mesmo tempo imoral, irracional e antissocial (e antipolítica)

-        Afirmar a possibilidade, a necessidade e até mesmo a indispensabilidade da visão de conjunto torna-se ainda mais urgente desde os anos 1960-1970 no Ocidente, com o desenvolvimento do pós-modernismo

o   O pós-modernismo foi elaborado na França mas logo foi importado pelos Estados Unidos; na França ele manteve-se como uma modinha academicista, mas nos EUA ele desenvolveu-se, aprofundou-se e derivou para a prática política, na forma da política identitária

o   O pós-modernismo nega, rejeita, despreza, impede as visões de conjunto, que ele chama de “visões totalizantes” ou de “grandes narrativas”

§  Os historiadores também desenvolveram suas próprias formas de desprezo pelas visões de conjunto

o   De acordo com esses pensadores, não há motivo para elaborar-se visões de conjunto, pois objetivamente elas seriam impossíveis e, além disso, elas seriam desnecessárias

o   Para eles, portanto, o bom é a fragmentação das idéias, a justaposição incoerente e irracional de concepções puramente subjetivas

§  A partir desse ultrassubjetivismo, o pós-modernismo afirma que não existe realidade objetiva, mas apenas “narrativas”

o   Essa é a própria definição e afirmação do que Augusto Comte chamava de “anarquia”, ou seja, a ausência de valores e concepções compartilhados

-        Ao longo de toda a história da Humanidade, o ser humano procurou elaborar visões de conjunto, ou sínteses

o   Essas sínteses foram chamadas inicialmente de “religiões” e, depois, também (ou apenas) de “filosofias”

o   Como se sabe, as metafísicas sempre atuaram como corrosivas das sínteses anteriores, mas, entre cada grande transição, a metafísica do momento já introduzia elementos da nova síntese

§  Com o início da mais recente grande fase de transição (após a Idade Média), a metafísica introduziu a sua corrosão, mas apresentando um caráter ambíguo: por um lado, auxiliando a ciência; por outro lado, desenvolvendo a pura corrosão

§  No século XVIII, algumas filosofias que tinham ainda um pé na metafísica afirmaram o espírito positivo e a visão de conjunto: foram os enciclopedistas, especialmente na França e na Escócia

§  Vale notar que mesmo algumas metafísicas modernas sem muito espírito positivo e/ou com forte espírito corrosivo (“crítico”) estimularam a visão de conjunto: Hegel e até Marx tiveram essa preocupação

o   Entretanto, algumas ciências – não por acaso, as ciências superiores – exigem a visão de conjunto

§  Essa exigência é inaugurada pela Biologia, seja em termos globais, com a Ecologia, seja em termos individuais, com o estudo da inserção dos órgãos no corpo

§  A Sociologia e a Moral também exigem a visão de conjunto

§  Vale lembrar, entretanto, que a ciência é ambígua: se por um lado há ciências que exigem a visão de conjunto, por outro lado a ciência entregue a si mesma tende ao absoluto e, como a ciência é pelo detalhe, por si mesma ela vai contra a visão de conjunto

-        A metafísica que rejeita a visão de conjunto, não por acaso, vincula-se à concepção individualista do ser humano: toda a tradição liberal é individualista e contrária à visão de conjunto

o   Para os liberais (progressistas ou conservadores; ingleses ou alemães ou estadunidenses ou austríacos), a visão de conjunto equivale sempre à opressão da sociedade sobre o indivíduo

§  O máximo de “sociedade” que os liberais concebem é a justaposição de indivíduos e dos seus respectivos egoísmos

o   O individualismo que descamba no liberalismo é o resultado da secularização da teologia: sai a divindade, mantém-se o egoísmo e rejeita-se a perspectiva social

o   O liberalismo é uma degradação do republicanismo, em particular na perda do sentido coletivo da vida humana

o   Mas é importante indicar que o liberalismo, apesar de seus defeitos intelectuais e morais, concebe ainda uma visão de conjunto em termos de leis válidas para todos (os indivíduos) – a isonomia

o   Da mesma forma, ainda que limitado pelo individualismo, o liberalismo reconhece a importância da ciência

-        O pós-modernismo (com sua conseqüência prática, a política identitária) é uma filosofia especificamente academicista e consiste no desenvolvimento sem freios da metafísica, isto é, do seu espírito corrosivo

o   O pós-modernismo e a política identitária aprofundam os aspectos críticos, isto é, corrosivos da metafísica (da mesma metafísica que resultou no liberalismo e, paradoxalmente, também no marxismo)

o   O pós-modernismo e a política identitária rejeitam (1) a ciência, (2) a visão de conjunto, (3) os valores compartilhados, (4) o universalismo nas políticas públicas

o   De maneira correlata, o pós-modernismo e a política identitária defendem (1) o particularismo, (2) o irracionalismo anticientífico, (3) o exclusivismo e a exclusão de quem não é do grupo identitário, (4) as “narrativas” identitárias exclusivas e excludentes

§  Ao longo da história já tivemos exemplos concretos de tais “narrativas” identitárias: foram a “ciência proletária” de Stálin e a “ciência ariana” de Hitler; atualmente há as “epistemologias negras”, “epistemologias queer”, “epistemologias feministas” etc. etc. etc. – tudo isso devidamente identitário, antiuniversalista, particularista, sectário

§  Duas aplicações práticas do sectarismo pós-moderno-identitário:

·         A defesa de discriminações “positivas”: “racismo inverso” (dos “negros” contra os “brancos”), “sexismo inverso” (das mulheres contra os homens) etc.

o   Uma consequência institucional das discriminações positivas são as cotas de vagas

·         A afirmação do “lugar de fala”, que consiste na defesa, no âmbito da retórica, de cotas exclusivas para os membros dos grupos identitários, de tal maneira que só podem falar sobre esses grupos os membros do próprio grupo, excluindo da possibilidade de falar desses grupos quem não os integrar

o   Versões mais suaves do “lugar de fala” até admitem que não-membros dos grupos identitários possam falar sobre os grupos identitários – mas sempre de maneira subordinada

-        É fundamental ter-se clareza de que não é necessário ser identitário para combater-se o racismo e promover a integração “racial”; para valorizar as mulheres e combater as discriminações e as violências contra elas; para valorizar os homossexuais e combater as discriminações e as violências contra eles etc.

o   A associação (interessada) entre determinadas pautas sociais e políticas e o identitarismo prejudica as próprias pautas

o   É possível e necessário encampar essas pautas sem recorrer ao identitarismo e aos seus profundos vícios morais, intelectuais e políticos

o   Ao reconhecermos a justiça das pautas defendidas pelo identitarismo mas recusarmos seus defeitos morais, intelectuais e políticos, cada uma das políticas identitárias em particular deve ser entendida como um "grito dos excluídos"

-        Insistimos: em contraposição à rejeição intelectual, moral e política da visão de conjunto realizada pelos pós-modernos, é necessário reafirmar a possibilidade e a necessidade das visões de conjunto, ou melhor, das sínteses

o   A visão de conjunto tem aspectos objetivos e subjetivos:

§  Ela é subjetiva na medida em que é o ser humano (o sujeito) quem elabora e a quem se direciona a síntese

§  Ela é objetiva na medida em que se baseia em elementos objetivos, sejam eles cósmicos, sejam eles humanos (históricos e morais)

§  Deixando de lado o escandaloso (mas “charmoso”!) elogio da irracionalidade feito pelos pós-modernos, é questão de perguntarmos com clareza e de respondermos com ainda maior clareza: qual o problema com que a síntese seja subjetiva? Ora, nenhum!

o   O Positivismo, a Religião da Humanidade afirma a visão de conjunto e a síntese:

§  A moralidade e a racionalidade estabelecidas por meio da subordinação progressiva de indivíduos e grupos a coletividades e perspectivas cada vez maiores: família, mátria, Humanidade atual (objetiva), Humanidade histórica (subjetiva)

o   Apenas por meio da visão de conjunto e da síntese propostas pela Religião da Humanidade é possível realizar com êxito a busca da harmonia individual, do bem-estar coletivo, do sentido da vida, da felicidade


29 março 2022

Curso livre de política positiva: roteiro da 2ª sessão

Reproduzo abaixo o roteiro da primeira sessão do Curso livre de política positiva, ocorrida no dia 15 de março, transmitida no canal Facebook.com/ApostoladoPositivista e também disponível no canal The Positivism (aqui).

*   *   *

Súmula

Preliminares à Política Positiva II: historicismo; visão de conjunto e visão de detalhe; objetividade e subjetividade; descrições e prescrições; escala enciclopédica e graus de generalidade

 

Roteiro

-        Preliminares à Política Positiva II

o   Historicismo:

§  O ser humano é um ser social e histórico:

·         Se há um traço específico do ser humano, esse traço é a historicidade, ou seja, a sucessão de gerações e o acúmulo de materiais ao longo do tempo

§  Afirmação da solidariedade e, ainda mais, da continuidade

·         O rompimento da continuidade humana é o principal sintoma da doença moral-intelectual moderna

·         Essa tendência, que já era percebida e criticada na época de Augusto Comte, é cada vez mais e radicalmente constituinte do mundo – evidentemente, para nosso prejuízo

§  A experiência histórica não ser desperdiçada: os contextos mudam, mas há grandes continuidades (e mesmo essas continuidades mudam)

·         Desenvolvimento de atributos ao longo do tempo

·         Em particular: desenvolvimento da paz, da indústria, do trabalho livre, da ciência; do relativismo e da própria historicidade

§  A história não é passado-presente-futuro, mas passado-futuro-presente

§  Essas concepções são o fundamento último da Sociologia (cujo método específico é a “filiação histórica”)

o   Visão de conjunto, visão de detalhe

§  Afirmação constante da visão de conjunto filosófica, histórico-sociológica e moral sobre a visão de detalhe científica, industrial e política

·         Prevalência da visão de conjunto sobre a visão de detalhe; mas, ao mesmo tempo, diálogo constante entre ambas as visões à relações entre síntese e análise

·         Em termos histórico-sociológicos: continuidade sobre solidariedade; Humanidade sobre pátrias; pátrias sobre famílias; famílias sobre indivíduos

o   Sociologicamente, a “célula social” é a família, não o indivíduo; não existem “indivíduos” abstratos, apenas sociedades; do ponto de vista filosófico e sociológico, o indivíduo é uma abstração perniciosa e imoral à isso não quer dizer que os indivíduos não ajam, não atuem, não tenham sentimentos, nem que não tenham responsabilidades

§  Espírito positivo versus ciência

§  ciência: conhecimento analítico da realidade, por meio das leis naturais abstratas; conjunto mais ou menos homogêneo de doutrinas e métodos empregados na exploração de um determinado âmbito da realidade

§  espírito positivo: compreensão sintética da realidade, elaborada pela filosofia, abrangendo a ciência, a atividade prática (que deve ser sinergética) e os sentimentos (que devem ser simpáticos)

§  enquanto a ciência tende a secar e a isolar o ser humano (em termos intelectuais, afetivos e práticos), o espírito positivo busca desenvolver o espírito e a integrar o ser humano

§  o objetivo da ciência é auxiliar o ser humano em seu desenvolvimento à antes de mais nada moral e, depois, material à é assim que se deve julgar e avaliar a ciência

o   Objetividade e subjetividade:

§  Toda concepção humana consiste de diferentes porções de objetividade e de subjetividade

§  Existe uma realidade objetiva, independente da vontade dos seres humanos, a que temos acesso por meio da subjetividade à assim, em certo sentido a oposição objetividade-subjetividade reflete a oposição mundo-homem

§  A relação entre objetividade e subjetividade é, ela mesma, histórica:

·         Todas as concepções do ser humano são subjetivas; a teologia é radicalmente subjetiva, mas pretende-se objetiva

·         A ciência assume a objetividade da realidade; começando pelas ciências mais gerais, mais abstratas e mais fáceis, estabelece o relativismo; daí, subindo até a Biologia, disciplina a subjetividade, por meio dos diversos métodos particulares

·         A Sociologia aplica a objetividade à sociedade, ao mesmo tempo que reconhece e revaloriza a subjetividade; esse movimento é aprofundado na Moral, que então pode fundar o método subjetivo

§  O Positivismo respeita a objetividade mas rejeita o servilismo em face dela

·         O servilismo em face da objetividade – ou, dito de outra maneira, o excesso de objetividade – constitui a idiotia

·         O Positivismo institui uma nova subjetividade – daí a “síntese subjetiva”, que é um novo antropocentrismo

o   Descrições e prescrições

§  O Positivismo estuda o que é a fim de saber o que será a fim de estipular como agir: “saber para prever a fim de prover”

§  As descrições seguem o diálogo entre objetividade e subjetividade

·         As descrições, portanto, são sempre e necessariamente “interpretativas”

§  As prescrições são a sequência natural das descrições: afinal, a ciência tem que ser útil

·         O fundamento das prescrições é a combinação do conhecimento da realidade (incluindo aí da natureza humana) com a moral (pacífica, relativa, positiva)

§  “Para completar as leis são necessárias vontades”: essa fórmula aplica-se tanto na fase das descrições quanto na das prescrições

·         A subjetividade humana está em operação ao querer conhecer as leis naturais, ao formular as leis e ao aplicar na prática as leis

o   Escala enciclopédica e graus de generalidade

§  Lei explicativa da lei intelectual dos três estados

·         A lei intelectual dos três estados, como sabemos, é esta: “os conhecimentos humanos passam sucessivamente por três estados – teológico, metafísico e positivo –, com uma velocidade proporcional à generalidade dos fenômenos correspondentes”

·         A escala enciclopédica esclarece quais os fenômenos são mais gerais e, portanto, quais concepções tornam-se positivas mais rapidamente

§  A escala enciclopédica afirma a multiplicidade das ciências: daí, portanto, ela estabelece a multiplicidade das leis naturais; por sua vez, isso estabelece a autonomia das várias ciências fundamentais entre si

·         “Os fenômenos mais nobres modificam os mais grosseiros subordinando-se a eles”

o   Relações entre subordinação e dignidade

o   Esse é o fundamento da diferença entre as “ciências superiores” e as “ciências inferiores” e, por extensão, do “método subjetivo”

·         Anti-reducionismo

o   A unidade da ciência é dada subjetivamente (por meio da síntese subjetiva), nunca doutrinariamente (por meio das teorias próprias a cada ciência)

·         Mudanças ao longo do tempo: fundação da Moral como ciência suprema; Sociologia como preparatória da Moral (v. II-III da Política)

§  Critérios:

§  Lógicos e históricos

§  Generalidade decrescente e especificidade (complexidade) crescente

§  Dedutibilidade decrescente e empiricidade crescente

§  Quanto mais elevada a ciência, mais complexa e nobre ela é; assim, mais modificável ela é; daí, maior a capacidade de intervenção humana

§  Classificação das ciências (abstratas) e respectivos métodos:

·         Matemática: dedução

·         Astronomia: observação

·         Física: experimentação

·         Química: nomenclatura

·         Biologia: comparação

·         Sociologia: filiação histórica

·         Moral: construção